quinta-feira, 15 de outubro de 2015

The Walking Dead - First Time Again


Os roteiristas de The Walking Dead sempre souberam, ao longo de seis temporadas, iniciar o ano com um episódio que praticamente torna impossível você não continuar assistindo. O excepcional First Time Again, que abriu este sexto ano, usou de artifícios artísticos e narrativos nunca (ou quase nunca) usados pelo show antes, o que deixou o resultado final tão diferente do que estamos a ver na série que foi quase como assistir a um filme.

Flashbacks sempre foram usados com muita moderação e nem sempre de forma eficiente ou relevante para a trama seguir em frente, mas desta vez eles acertaram em cheio. A história nem precisaria deles, já que os flashs narram eventos recentes ao que está acontecendo no “presente”, mas a forma como a edição foi feita e o modo que as cenas foram montadas (tudo que é no passado é visto por nós em preto e branco) instiga a nossa curiosidade enquanto tentamos juntar os pedaços para dar sentido ao plano aparentemente maluco que os personagens estão executando.

A série entra em uma nova e interessante fase agora. Rick há muito tempo deixou de ser o policial cheio de princípios moralistas e passa a se comportar mais como um novo Governador em Alexandria, lugar onde suas decisões ainda dividem opiniões e que ele já tenta controlar de formas muito similares às aplicadas pelo personagem de David Morrissey na extinta Woodbury.

O personagem de Rick, aliás, está passando por um processo de desenvolvimento muito bem elaborado, tão bem feito quanto o de Walter White em Breaking Bad. Todas as reações e decisões dele fazem sentido se for considerada a trajetória do personagem ao longo dos anos. Ele e sua família (e aqui incluo todo o grupo de sobreviventes, não apenas sua mulher e filhos) cansaram de serem vítimas e farão de tudo para garantir sua segurança. Se um dia eles discutiram por quase três episódios se deviam ou não executar um refém que poderia vir a ser uma ameaça, essa decisão agora é tomada de forma quase instantânea, no calor do momento, e sem a menor hesitação.


Eu nunca li os quadrinhos de onde a série se baseia e não faço ideia do que esperar dessa temporada, que se ela manter pelo menos metade do nível atingido neste primeiro capítulo, poderá ser a melhor que vimos até aqui.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Encurralado - A Estréia de Steven Spielberg no cinema



As vezes, tudo o que um grande talento precisa é de um pouco de confiança. Depois de dirigir alguns episódios para seriados da casa, o canal de TV ABC confiou a um Steven Spielberg de apenas 25 anos $450.000 para ele fazer a sua estréia na direção de longa-metragens. Originalmente um filme feito para ser lançado apenas na telinha, Encurralado (Duel, 1971) foi tão bem recebido que ganhou uma distribuição internacional nos cinemas e algumas cidades nos EUA. Apesar de relativamente inexperiente, Spielberg já mostra em Encurralado estilo e personalidade com sequencias angustiantes de suspense psicológico e ação, fazendo milagres com o baixíssimo orçamento que recebeu. A produção resiste muito bem aos 44 anos que se passaram desde seu lançamento e não faz feio a filmes recentes, tendo sido copiado e homenageado por muitos deles.



Na história, David Mann, um homem comum de meia idade, viaja por uma estrada deserta quando começa a ser perseguido por um motorista de um enorme e ameaçador caminhão tanque e que, sem qualquer razão aparente, tenta matá-lo a todo custo. Spielberg nos coloca dentro do carro e da cabeça de Mann, nos fazendo sentir sua angústia e impotência diante de uma situação tão absurda. Em uma cena clássica, Mann entra em um restaurante de beira de estrada e, ao voltar do banheiro, vê o caminhão estacionado do lado fora. Ele compartilha com o público sua agonia enquanto, sentado aterrorizado em uma mesa, sua em em bicas hora tentando achar uma razão coerente para as atitudes do motorista (talvez ele esteja só com pressa, ou sem freio, ou passando mal), para depois analisar de forma neurótica todos a sua volta, acreditando que seu antagonista é um dentre os vários homens que estão no salão.



Como a identidade do motorista vilão é sempre mantida em segredo (apenas seus braços e pernas aparecem pouquíssimas vezes), sua persona é canalizada através do caminhão em si. Imponente, sujo, barulhento e muito veloz, ele vai fazer você se lembrar desse filme toda vez que for ultrapassar alguém na estrada. David Mann é um homem tão comum  quanto eu ou você. Tudo o que sabemos sobre ele é que está a caminho de um encontro de negócios e com uma família o esperando em casa. Essa simplicidade na história e na construção do personagem favorece o filme, fazendo que nós nos coloquemos no lugar de Mann na aterrorizante possibilidade de ter a sua vida nas mãos de uma pessoa desequilibrada, apenas pelo azar de ter cruzado com ela pelo caminho.

sábado, 18 de julho de 2015

Que vergonha, nunca tinha assistido... Clube da Luta


Tentei assistir a Clube da Luta (Fight Club, 1999) na época de seu lançamento, quando tinha apenas 14 anos e talvez não estivesse pronto para ele. Admito que fiquei bem confuso e lembro de ter ficado um pouco decepcionado, não conseguindo sequer terminar. Aqui no Brasil a produção  recebeu muita atenção da mídia depois do caso do rapaz que entrou atirando dentro de uma sessão de cinema que exibia o longa, o que gerou discussões sobre como a violência dos filmes influencia as pessoas. Não vi ali motivo para tanto bafafá. O filme era violento sim, mas nada que já não fosse exibido nos jornais mais sensacionalistas da TV aberta. O extinto programa do SBT "Aqui, Agora", me impressionava muito mais, por exemplo. Os anos foram passando e percebi que Clube da Luta tinha uma verdadeira legião de fãs apaixonados, e agora, com 30 anos, decidi dar mais uma chance. 

O filme é bem bom, talvez não tão bom para colocarem no altíssimo patamar onde o colocaram, mas satisfaz. Há muito estilo ali, admito, com seqüências inspiradas e muito bem filmadas (a explosão do apartamento, o delírio da queda do avião e o auto-espancamento na frente do chefe, entre tantas outras, são incríveis) mas na necessidade de se auto-explicar o roteiro não deixa espaço para o expectador pensar e chegar às suas próprias conclusões, o que prejudica bastante o momento da grande revelação perto do final do filme, que seria muito mais impactante se apenas as imagens nos revelassem a reviravolta, ao invés de ter um personagem explicando ela para gente. Isso para mim tirou boa parte da graça.

Tirando esse único porém de um roteiro quase (com ênfase no quase) imaculado, a direção de David Fincher arranca do bom elenco interpretações memoráveis. Os sempre competentes Edward Norton e Helena Bonham Carter se entregam profundamente aos personagens, como esperado, mas o filme pertence mesmo a Brad Pitt. No auge de sua forma, Pitt se firma aqui como um dos grandes atores de sua geração e faz, como poucas vezes antes e depois, cenas de luta carregadas de brutalidade sem se tornarem exageradamente sanguinolentas, tipo um Kill Bill.

Clube da Luta é aquele tipo de filme para ser visto duas vezes e ter experiências completamente diferentes. Devido à já mencionada reviravolta (aquela que o próprio personagem principal meio que estraga a graça) você vai ter que assistir de novo para notar que dicas da revelação estavam ali o tempo todo, mas você não tinha entendido. Se eles tivessem construído a revelação da mesma forma feita em o Sexto Sentido a cena explodiria a cabeça do expectador, uma vez que ele chegou a aquela conclusão sozinho. Colocar isso na boca do personagem é tipo um Coito Interrompido. Foi bom, mas você sabe que tinha potencial para ser muito melhor.

domingo, 3 de maio de 2015

Ninguém está a salvo!!! - As mortes das 3 melhores séries da atualidade




Atenção, Spoilers a frente...

Não é nada fácil ser um personagens nestas séries, pois semana que vem você pode não estar mais nelas. Eles eram  protagonistas de vital importância para a história e desenvolvimento da trama, ou ao menos era o que a gente pensava. Assim, de repente, eles bateram as botas, muitas vezes de formas totalmente inesperadas, e te deixaram se perguntando se aquilo tinha mesmo acontecido. Praticamente ninguém está seguro nas três melhores séries em exibição atualmente.

House of Cards

Até quase o final da primeira temporada a gente torcia para os esquemas de Francis Underwood dessem certo, isso até ele mostrar até onde ele é capaz de ir para atingir seus objetivos. Ele já tinha avisado o espectador de sua determinação, mas nada poderia nos preparar para a frieza com que ele executou estes dois personagens.

Peter Russo não devia ter voltado a beber
Peter Russo, coitado, não percebeu que foi manipulado por Francis a temporada inteira e pagou o preço com a própria vida quando não tinha mais serventia para ele. Depois de passar a maior humilhação ao dar uma entrevista bêbado para uma rádio (por conta de uma armadilha de Francis, claro), o finado candidato ao governo da Pensilvânia, no fundo do poço e mais bêbado do que nunca, não teve chance de escapar quando Francis o trancou na garagem com o carro ligado enquanto ele dormia.

Zoe Barnes não ficou atras da faixa amarela

A Zoe Barnes deve ter morrido sem nem ter tempo de raciocinar sobre o que estava acontecendo. A morte dela, no primeiro episódio da segunda temporada, me deixou de boca aberta por vários minutos, afinal ela era a personagem feminina mais importante depois da Clair e nada no episódio deu qualquer sinal de que ela partiria para o andar de cima. Depois de uma tensa conversa com Francis, ela é friamente jogada na linha do metrô enquanto um trem chega na plataforma. "Jumpe Scare" dos bons.



The Walking Dead

Os atores dessa série devem ter palpitações cada vez que o roteiro de um episódio novo chega na casa deles. Aos longos de 5 anos de história, vários personagens de The Walking Dead tiverem um trágico e repentino fim. Dale, Lori, Andrea, Hershel, Shane, Noah, Beth, Amy, Sophia... a lista é longa e só tende a aumentar. Não poderíamos esperar menos de uma série pós-apocalíptica de Mortos-Vivos, mas eu nunca estou pronto para despedir de personagens que eu gosto.
Amy só queria um papel higiênico
Tudo estava tão bem na beira da fogueira em uma noite tranquila no acampamento, quando Amy, irmã de Andrea sai do trailer querendo saber do papel higiênico. Se a última pessoa a usar o banheiro do trailer tivesse reposto o papel, talvez Amy não tivesse tido esse prematuro fim. Cena muito triste quando ela morre nos braços da irmã.

A inesquecível "Sophia no celeiro"
Por sete episódios inteiros todos os personagens da série se arriscaram procurando Sophia no mato, depois que ela se separou e se perdeu do grupo. Todos tinham certeza de que ela estava viva, escondida em algum lugar. Duvido que alguém tenha ficado sentado ao ver a pequena Sophia-Zumbi saindo do celeiro, fechando um dos arcos mais emocionantes de The Walking Dead.
Beth morreu ao tentar ser valentona.
Outra loirinha que se perdeu do grupo e se despediu da série do meio da temporada. Depois de passar maus bocados no Grady Memorial Hospital, Beth estava praticamente salvo quando decidiu voltar para dar uma tesourada (com uma tesoura ridícula) em Dawn que, no susto, deu tiro no seu queixo. 

Dale se ferrou por culpa do Carl
Na segunda temporada, Carl queria provar para si mesmo que era um homem, e sai da fazenda em busca de um zumbi para matar. Ele encontra um atolado na lama, alvo fácil, mas não consegue matá-lo porque o zumbi desprende a perna da lama e quase o alcança. Este mesmo zumbi, horas depois, esbarra com o idoso Dale, que não consegue evitar de ter sua barriga aberta por ele. 

Governador pirado não perdoa nem a terceira idade.
Que o Governador não batia bem da cabeça todo mundo já sabia, mas foi impossível não se chocar quando ele decapitou o pobre Hershel com a espada da Michonne na frente de suas filhas. 
Lori morre ao dar a luz a Judith na pior cesária da história
Ta aqui aquela morte que o episódio acaba e você meio que não acredita no que aconteceu. Lori era a personagem feminina principal da série, esposa do protagonista e grávida de nove meses. Depois que a prisão é sabotada e eles acabam encurralados em uma salinha, Lori entra em trabalho de parto e Maggie é forçada a fazer uma cesária ali mesmo, no chão e com uma faca, tudo isso na frente do filho dela. Tenso.
O Shane bem que mereceu
O Shane nunca foi lá um poço de simpatia. Sua obsessão por Lori e pelo bebê que ela carregava o fez planejar a morte de seu melhor amigo, Rick, que teve que matá-lo para se defender.
Andrea. Tá aí uma saudade...
Ela tentou fazer com todo mundo ficasse amigo, e só acabou se ferrando. Andrea se viu dividida entre o grupo da prisão e a comunidade de Woodbury, que estaca sob a liderança do pirado Governador. Quando ela percebeu que ele era perigoso tentou voltar para sua antiga turma, mas o doido não deixou e a trancou em uma sala, amarrada em uma cadeira, enquanto Milton morria lentamente na sua frente, uma bomba relógio zumbi. Infelizmente ela não foi resgatada a tempo, mas pode se despedir de seus amigos e acabar as coisas de seu jeito, ao lado da amiga Michonne. 
O Glenn vai sonhar com a morte de Noah por muito tempo.
Tyler James Williams conseguiu se desvincilhar de vez de seu personagem em Everybody Hates Chris e marcou história em The Walking Dead como a morte mais chocante da série. Presos em uma porta giratória, Glenn não conseguiu segurar Noah quando ele foi puxado por uma imensa horda e teve que ver, sem poder fazer nada, seu amigo ser estraçalhado na sua (e na nossa) frente. Essa foi até difícil de olhar.

Game of Thrones

Aqui é difícil passar um único episódio sem que alguém bata as botas, mas não só de figurantes o cemitério de Westeros está cheio. Se se tem uma coisa que Game of Thrones nos ensinou desde o começo é "não se apegue a ninguém", pois as chances do seu personagem favorito morrer na semana que vem são bem altas. Estamos falando aqui de uma série que matou o seu protagonista antes mesmo do fim da primeira temporada, então ninguém mais está seguro.

Oberyn Martell cantou vitória cedo demais.
Lysa Arryn voou.
Catelyn Stark nunca soube o que aconteceu com suas filhas.
Não deu para lamentar a morte Joffrey Lanister...
... e nem do avô dele, o Twyin Lanister.
A morte do Ned Stark pegou todo mundo de surpresa...
... a do filho dele, Rob Stark, também
Viserys Targaryen e sua tão sonhada coroa






terça-feira, 7 de abril de 2015

1 Bilhão de motivos para rever Titanic


Em Janeiro de 1998, então com doze anos de idade, decidir gastar o troco que havia acabado de receber da moça que cortara meu cabelo em uma sessão de cinema no meio da tarde. De macacão jeans e o dinheirinho dentro do bolso da frente, peguei o ônibus e fui para o shopping disposto a assistir o primeiro filme que estivesse começando. Tinha uma sessão de Titanic em poucos minutos. A sala estava quase vazia, com no máximo umas 10 pessoas além de mim, e eu me sentei para ver o filme sem saber ao certo o que esperar. Internet nos anos 90 era praticamente inexistente, então a gente ia no cinema na maioria das vezes com bem menos informações sobre as produções do que hoje em dia. A única coisa que eu sabia era que se tratava de uma história de amor em meio a um naufrágio que, por sua vez, havia mesmo acontecido 85 anos antes. Três horas depois eu saí da sala de cinema chorando descontroladamente, totalmente desfigurado. Uma senhora no shopping me abordou, preocupada, perguntando se eu havia me perdido da minha mãe. Ela se afastou rindo quando eu disse a ela porque estava daquele jeito
Notícias sobre o filme começaram a se espalhar, e eu fiz a minha parte para ajudar. Em poucos dias o público estava indo em massa aos cinemas. Na semana seguinte não era mais possível comprar ingressos para o mesmo dia, então as pessoas iam embora com entradas para sessões dali a três, quatro ou mesmo cinco dias, isso depois de ter ficado várias horas na fila da bilheteria. Multiplex passaram a ter  metade ou a maioria de suas salas exibindo ao longa, mesmo assim sem dar conta da demanda. Existia ovrebooking de ingressos e em várias sessões as pessoas se sentavam no chão, espalhadas pelos corredores das salas, e naquela época ninguém reclamava. Nas bancas de jornal só se via o rosto do Leonardo DiCaprio na capa de todas as revistas para adolescentes. A Leo-Mania foi global. 


Todas as emissoras de TV exibiam uma enxurrada de documentários especiais sobre a história do navio "inafundável" que, ironicamente, afundou em sua primeira viagem. Até uma transmissão ao vivo de uma expedição aos destroços foi feita pelo Fantástico, embora ninguém tenha conseguido ver absolutamente nada. My Heart Will Go On tocava no rádio a cada 10 minutos e todo mundo passou a saber quem era Celine Dion. Cada vez que um parente ou amigo ia cinema lá ia eu de novo, feliz da vida, pipoca em uma mão e lencinho na outra, pronto para me acabar mais uma vez. Em uma das vezes fui com um amigo da escola e fiz ele passar vergonha no shopping de tanto que eu chorava. No total eu compareci a 12 sessões do filme naquele ano. A trilha sonara composta por James Horner  foi o primeiro CD que eu comprei na vida. No final do ano paguei R$ 80,00 (uma fortuna em 1998, acredite) em uma caixa de luxo com duas fitas, cheia de fotos... a coisa mais linda. 


Titanic ficou quase um ano em cartaz e foi a primeira produção a ultrapassar a barreira do 1 bilhão de dólares em bilheteria, feito alcançado por pouquíssimos filmes até hoje, isso sem a ajuda dos ingressos mais caros das sessões 3D que impulsionaram seus colegas bilionários. E muitos críticos apostaram que o filme seria um enorme fracasso, veja só. Todo mundo embarcou na açucarada história de amor proibido, a menina rica se apaixonando pelo rapaz humilde porém de espírito livre, totalmente diferente do burguês cretino a quem ela está prometida. A relação de Jack e Rose é construída de forma orgânica e natural, e os atritos que acabam surgindo ao redor desta relação, com a mãe e o noivo de Rose, estabelece para o público o abismo social entre os passageiros das diferentes classes sociais a bordo do navio.


E essas diferenças não são apenas no luxo das acomodações que ocupam, mas nas chances que cada um teve para lutar pela sua sobrevivência. As cenas onde os passageiros da terceira classe são impedidos de entrar nos botes ou até mesmo de terem acesso ao exterior do navio durante o naufrágio são chocam pela brutalidade e pelo desprezo com os quais eles são tratados. Toda a sequência do naufrágio é um espero técnico e narrativo notável. Usando diferentes técnicas de efeitos especiais, James Cameron conseguiu retratar de forma impressionante um dos acontecimentos mais marcantes do século passado. Até hoje as imagens do navio em seus momentos finais é de arrepiar, ele com a popa inclinada, a água invadindo com violência os salões e arrastando a todos que encontra pela frente, as pessoas caindo por pelas beiradas no desespero de se salvarem, os corpos congelados no mar... E pensar que aquilo tudo aconteceu de verdade é ainda mais perturbador. 



Essas cenas ainda impressionam mesmo 18 anos depois do lançamento, mesmo que alguns problemas possam ser encontrados nas imagens digitais e no chroma key, mas nada que incomode muito. É no significado das imagens que está a verdadeira força do filme. Impossível se esquecer da cena da mãe colocando os filhos para dormir ao perceber que não irão conseguir se salvar, do casal de idosos que se deitam para esperar o inevitável chegar, do capitão covarde que se tranca na ponte para não precisar encarar as consequências de seus erros, dos passageiros da terceira classe trancados como animais nos andares inferiores ou da banda tocando a música mais triste do mundo enquanto tudo desaba a sua volta.


Duvido que você não chorou nessa cena.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Sagas inacabadas no cinema.

Para muitos leitores, nada é mais gratificante e emocionante do que ver seus personagens ganharem vida, tornando ainda mais especiais as lembranças de quando tudo foi imaginado e vivido apenas na mente. No universo cinematográfico foram muitas apostas nesse segmento, mas adaptar de forma clara, precisa e criar um roteiro convincente sem perder a essência da história talvez seja o maior desafio.

Muitas vezes não dá certo, e os estúdios assistem seus investimento milionários empacarem na bilheteria ou mesmo serem enormes fracassos, não agradando nem os fãs mais empolgados das obras em que foram baseadas.

Listamos abaixo seis sagas literárias que não foram finalizadas na telona, apesar de sua legião de fãs e do bom desempenho de alguns.

Entrevista com o Vampiro ( Anne Rice)

O filme, que adapta o primeiro livro da série Crônicas Vampirescas, conta a história do Louis, vampiro transformado por Lestat, que após o acontecimento não entende sua nova condição e sai em busca de respostas e sentido para sua imortalidade.

Conhecemos a criança vampira Claúdia, que não aceita se tornar uma mulher no corpo de uma menina, interpretada por Kirsten Dunst, papel que lhe rendeu indicação ao Oscar como melhor atriz coadjuvante naquele ano. Antônio Bandeiras na pele do Vampiro Armand e Tom Cruise, que imortalizou o personagem Lestat de forma esplêndida.

O filme também foi indicado ao Oscar de melhor direção e em 2014 foi lançado um Blu-ray comemorativo  pelo 20° ano de lançamento.

Entrevista com o Vampiro foi bem sucedido, rendendo mais 220 milhões em bilheteria, mas a saga não seguiu em frente. Em 2002, na junção entre O Vampiro Lestat e A Rainha dos Condenados, livros que seguem na ordem cronológicas da série, foi lançado de forma independente o filme “A Rainha dos Condenados” com “Aaliah” no papel de Akasha. Morta no mesmo ano por um acidente de aéreo, o filme foi dedicado a sua memória.

A saga conta com 11 livros lançados e desde então não houve mais menção ao futuro de novos filmes.



ERAGON (Christopher Paolini)

A saga conta a história do jovem órfão Eragon, que ao encontrar um ovo do último descente da raça dos dragões, a fêmea Safira, torna-se cavaleiro e embarca numa aventura de muita magia, profecias e mistérios.

Apesar do pesado investimento, com filmagens na Eslováquia, Hungria e Reino Unido, o filme lançado em Dezembro de 2006 obteve críticas negativas do público, mídia e ate´dos fãs da série.

Eragon é o primeiro livro da série que ainda tem conta com Eldest, Brising e Herança, nenhum com previsão de lançamento nos cinemas.


A Bússola de Ouro (Philip Pullman)


A série gerou polêmica com representantes religiosos, que acusaram a história de ser incentivadora do ateísmo para crianças.

A trilogia trata de questões sobre o bem e o mal, mundos paralelos, Deus, religiões, cristianismo e conta com elementos de fantasia, feitiçaria, abordando também filosofia e teologia. Nenhum destes temas, porém, foi abordado de forma satisfatória da adaptação e todos ignoraram o filme.

Apesar do pesadíssimo investimento, ter nomes como Nicole Kidman e Daniel Craig no elenco e efeitos especiais impressionantes, a adaptação naufraga em todos os sentidos.

Uma pena (ou sorte) que jamais veremos os outros livros da saga Fronteiras do Universo, os ótimos A Faca Sutil e A Luneta Âmbar, adaptados para o cinema.

Coração de Tinta (Cornelia Funke)


Pura magia e encanto nesse filme onde personagens dos livros ganham vida.

Obteve uma recepção negativa dos críticos, mas para muitos obteve seu objetivo enquanto adaptação. O filme é uma linda fantasia cheia de aventuras em meio a livros e personagens interessantes. Para os fãs da trilogia, que continua com Sangue de tinta e Morte de tinta, uma futura continuação nos cinemas seria incrível.

 Os Instrumentos Mortais –Cidade dos Ossos (Cassandra Clare)

Fantasia que envolve no seu enredo anjos, demônios, bruxas e lobisomens em uma história com muito misticismo, símbolos, lendas e legados.

Com fraco desempenho nos cinemas e críticas negativas, houve rumores de abandono na produção das sequencias, portanto ainda há controvérsias quanto o lançamento de Cidade das Cinzas, que estava previsto para chegar aos cinemas ainda no final de 2015.


Ao todo a saga conta com mais 04 livros. Cidade de Vidro, Cidade dos Anjos Caídos, Cidade das Almas Perdidas e Cidade do Fogo Celestial.

As Crônicas de Nárnia (C.S Lewis)


A saga de C.S Lewis tinha tudo para render ótimas adaptações cinematográficas, abordando muita fantasia, paisagens e personagens fantásticos. A mitologia que envolve o universo de Nárnia ainda divide opiniões, e a famosa alusão a Jesus Cristo vivido pelo personagem Aslam é uma das questões mais comentadas por leitores e especialistas em literatura cristã.

Em 2005, com grande expectativa, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa chegava aos cinemas arrecadando o equivalente a 700 milhões em bilheteria em todo o mundo, mas sem realmente convencer. Foi seguido pelos igualmente medianos O Príncipe Caspian em 2008 e O Peregrino da Alvorada de 2010.

Apesar de As Crônicas de Nárnia ser um clássico da literatura mundial e uma das mais conhecidas obras de todos os tempos, não há previsão se os outros 4 livros da série, Cadeira de Prata, O Cavalo e seu Menino, O Sobrinho do Mago e A Última Batalha, um dia chegarão aos cinemas.

Texto escrito por Alison Rodrigo
Revisado por Heitor Menotti

sábado, 4 de abril de 2015

O fôlego interminável de Cinderela


Em 1950 o estúdio de animação de Walt Disney estava à beira da falência. Os duros anos da Segunda Guerra, que impediam o lucrativo público Europeu de ir ao cinema, e uma série de produções de baixa qualidade lançadas no anos 40 comprometeram seriamente o seu caixa e a sua credibilidade. Eles precisavam urgente de uma nova "Branca de Neve", uma produção que elevasse a moral da empresa, trouxesse lucro e que encantasse o público. Cinderela foi lançado como uma última aposta, o "ou-vai-ou-racha" definitivo. Considerado até hoje como uma das melhores animações já feitas, o filme foi um enorme acerto em todos os sentidos, técnicos e narrativos, e o resultado refletiu na gorda bilheteria, que salvou as contas do estúdio e deram o capital para que a construção da Disneyland fosse viável. 

65 anos depois , já a muito tempo estabelecida como uma gigante quase imbatível no mundo do entretenimento, a versão live action da gata borralheira chega aos cinemas com a mesma inocência e carisma do original e, ajudado por uma história mais bem cadenciada, melhor desenvolvimento de personagens e efeitos especiais impressionantes, supera a animação em (quase) todos os aspectos.

Poderia ser um tiro no pé, afinal Cinderela pode ser considerada um tipo antiquado de princesa. Totalmente passiva aos maus tratos de sua madrasta e meia irmãs, ela precisa que outros venham em sua defesa, seja o príncipe ou a Fada Madrinha, para ter a chance de sair dessa vida de abusos e humilhações. Em uma época de princesas que assumem o controle de seu próprio destino, como a Rapunzel de Enrolados e a Elsa de Frozen, esse perfil pode ser um tanto ultrapassado, por isso o roteiro da adaptação foca na gentileza de Cinderela, valor que ela aprendeu com a mãe como um mantra a ser repetido em tempos de crise, fazendo com que ela não seja submissa, ela apenas está sendo gentil. Pode parecer um tanto carola, mas funciona bem na história.


Para encarnar Cinderela foi escalada a quase desconhecida Lily James, que será reconhecida pelos fãs da série britânica Downton AbbeyLily consegue entregar o que se espera da personagem sem parecer vítima ou sonsa, encontrando um bom equilíbrio entre o ingênuo e o perspicaz, importante para não torná-la "boazinha" demais a ponto de fazer o público torcer para a vilã. Cate Banchett, no papel da madrasta, tem um desempenho competente, mas muito contido para uma posição em que ela poderia ter sido um pouco mais extrovertida.

O personagem que mais se beneficiou nesta nova versão foi o príncipe. Ele, que sequer tinha um nome no filme original, agora tem um motivo coerente para se apaixonar por Cinderela ao se encontrar com ela na floresta. Interpretado por Richard Madden, o Robb Stark da série Game of Thrones, o príncipe ganha um nome (Kit), carisma e, o mais importante, personalidade.

É bom ver Helena Bohan Carter fazendo um personagem alegre e iluminado. Como a Fada Madrinha ela se afasta do estigma dos personagens obscuros, como Belatrix Lestrange da série Harry Potter, sem deixar de dar um ar de perspicácia e ironia a um papel relativamente pequeno para a importância que ele tem para o enredo.



Kenneth Branagh tem uma excelente direção em filmes com grandes efeitos especiais, e aqui ele consegue superar o bom trabalho feito em Thor, de 2011. O visual do filme é espetacular e deslumbrante, enchendo a tela de belíssimas imagens. Toda a sequencia da fuga de Cinderela do castelo após a meia noite, com os animais e a carroça lentamente voltando as suas formas originais, é totalmente impecável.

Só fiquei um pouco decepcionado com uma cena: da madrasta rasgando o vestido que Cinderela usaria no baile. No desenho, a madrasta incita Anastácia e Drisella ao reparar que o vestido foi feito usando itens rejeitados anteriormente pelas irmãs. A cena é realmente forte, mostrando a crueldade, inveja e egoísmo das duas, deixando Cinderela, literalmente, aos trapos. Assista a cena no vídeo abaixo:


No filme, a madrasta dá uma ou duas rasgadinhas no vestido ,e só. Perdeu-se toda a carga emocional da versão original e também a chance de fazer uma cena que poderia ser clássica.

Apesar de ser mais batida que as tramas da Malhação, ainda é possível se divertir e se emocionar com a menina do sapatinho de cristal, provando que até uma história cheia de clichês pode ser um bom entretenimento. Agora vamos esperar que os já anunciados filmes live action de A Bela e a Fera e Mulan mantenham esse padrão de qualidade.