quarta-feira, 1 de abril de 2015

Querida, Viciei o Heitor



Em uma das minhas memórias mais antigas eu me lembro de estar sentado no sofá vendo televisão e assistir a propaganda de um filme sobre crianças encolhidas perdidas no jardim de casa e quase sendo comidas pelo pai depois de ter caído na tigela de cereal. Fiquei tão estarrecido com as imagens que vi que falei no mesmo momento que precisava ir no cinema ver aquele filme. Minha irmã mais velha disse que era um filme de terror, onde o pai comia os próprios filhos, mas eu não acreditei e ela e o meu pai me levaram para assistir a Querida, Encolhi as Crianças (Honey, I Shrunk the Kids).

O ano era 1989. Eu tinha 4 anos de idade.


Eu fiquei totalmente viciado naquela história, fascinado pela floresta na qual havia se tornado um simples gramado, onde Nick, Amy, Russ e Ron eram perseguidos por escorpiões, dormiam dentro de um Lego, eram quase mortos por gotas gigantes, faziam amizade com uma formiga, tinham uma vertiginosa viagem nas costas de uma abelha e eram sugados pelo cortador de grama. Praticamente um Survivor Movie para crianças. Foi assim, com uma simples aventura familiar dos Estúdios Disney, que eu me apaixonei por cinema.



E não parou por aí. Quando meu pai comprou o primeiro vídeo-cassete dele em 1991 esse foi o primeiro filme que alugamos. Eu assistia sem parar, uma vez atras da outra, aproveitando enquanto a fita rebobinava para ir ao banheiro ou comer alguma coisa e até o VHS arrebentar. Eu forçava meus parentes a assistirem comigo e ficava olhando para eles para ter certeza de que estavam prestando atenção em cada detalhe, em cada cena. Não demorou muito e eu decorei todos os diálogo e conseguia falar junto com eles, sincronizadamente, todas as falas. Na escola eu fazia desenhos de gramas gigantes, brincava na rua com meus vizinhos reencenando as cenas, desmontava aparelhos velhos e criava as minhas próprias máquinas de encolhimento, pegava palitos de fósforo e deitava na grama para fingir que eles eram as crianças perdidas, fugindo de tsunamis que eu criava virando baldes de água. 



Minha família até hoje me lembra dessa época, inclusive já ganhei uma caneca com o poster do filme que é até hoje o presente de Natal que mais me emocionou. Ainda hoje eu coloco a incrível trilha sonora do filme, composta por James Horner, enquanto limpo a casa, repassando as cenas na minha cabeça e ocasionalmente imaginado uma pessoinha sendo varrida pela minha vassoura e sendo jogada no lixo. Toda a vez que vejo uma abelha imagino o Nick e o Russ em cima dela. Toda vez que vejo sprinklers regando um jardim, uma pessoa jogando uma bituca de cigarro na grama, uma formiga, um escorpião, um lego, cortador de grama, bolacha recheada, taco e bola de baseball... tudo me lembra do filme.

Claro que para o público de hoje os efeitos especial que explodiram a minha cabeça lá atras estão bem ultrapassados.  Os recursos mais avançados a disposição dos produtores eram o stop-motion, o chroma key e as maquetes, mas todos eles foram usados de forma bastante satisfatória para a época.


Até hoje existe em um dos parques da Disney um enorme playground baseado no filme e que vive lotado. Pena que nenhuma das crianças que brincam lá agora tenham tido a experiencia que eu tive com o filme. Pena que eu não pude ir até lá quando eu tinha a idade delas. Pena que aventuras honestas e ingênuas como Querida, Encolhi as Crianças não sejam lançadas com mais frequência. Mas uma pena mesmo é que eles não deixaram o marmanjo aqui brincar na formiga, então isso foi o mais próximo que eu consegui chegar dela.

Claro que não é o melhor filme do mundo, e assisti-lo agora, com 30 anos de idade, todos os problemas de de roteiro e de desenvolvimento de personagens saltam ao meus olhos de adulto. A história do filme não tem grandes dilemas, lições de moral ou ensinamentos profundos, é apenas uma absurda história que até hoje, 26 anos depois, acende uma coisa especial em mim, fazendo com que eu me sinta de novo com 4 anos, os pés balançando para fora do sofá querendo mais do que tudo fazer parte daquela aventura.

2 comentários:

  1. Decorar as falas?! Vc não fazia isso? Kkkk... Imaginei vc policiando os seus convidados enquanto assistia ao filme. HAHAHAHA. Bem legal o post!!! Fiquei com vontade de assistir o filme, já que nunca assisti inteiro, sempre pedaços.

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  2. Eu até hoje tenho a nítida impressão de ter visto algumas pessoas sentadas na borda da tigela na cena do pote de leite com cereais, mas nunca pude confirmar isso porque na época cinema era uma coisa cara e eu não podia voltar a assistir apenas para tirar essa dúvida. Alguém sabe me dizer se realmente por um erro apareceram pessoas sentadas na borda do pote nessa cena?

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